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Saúde Mental

O papel do líder no apoio e prevenção à Síndrome de Burnout

O meu propósito inicial ao divulgar informações sobre a Síndrome de Burnout foi trazer à luz um tema tão presente no ambiente de trabalho, mas ainda discutido de maneira superficial e estigmatizada, dificultando a tomada de ações efetivas.

Sabemos que em um ambiente em que falamos fluentemente de margem, crescimento, lucratividade, produtividade, fatos e dados, falar de uma síndrome pode até parecer um novo idioma. Mas com olhos e ouvidos atentos, percebemos que essa realidade está mais próxima do que poderíamos (e gostaríamos de) imaginar.

O mergulho mais aprofundado sobre o tema me ajudou a começar a montar um quebra-cabeça sobre situações que vi acontecer ao longo da minha experiência profissional e que não tiveram o seu esperado “final feliz”.

–      Um jovem profissional promovido para uma gerência sênior pela sua capacidade de resolução de problemas complexos é desligado menos de um ano depois após uma sucessão de erros

–      Um experiente executivo de vendas ao assumir a diretoria para qual sempre se preparou perde sua autoconfiança a ponto de gaguejar e não conseguir engajar seus times

–      Mulheres, muitas e muitas mulheres, levadas a acreditar que o fardo da vida corporativa era grande demais para elas, abrindo mão de carreiras ascendentes e promissoras

–      Um time de alta performance e cheio de energia, passa a trabalhar por horas a fio sem alcançar resultados efetivos e de uma hora para outra perde seu brilho

Exemplos de situações que não foram explicadas e muito menos solucionadas por práticas de Engajamento, Treinamento, Desenvolvimento, Feedback, Gestão de Desempenho. Mas quando voltei a refletir sobre elas usando uma nova lente, passei a enxergar padrões que antes não via.

A questão que as organizações estão enfrentando é uma crise de esgotamento de energia. Um estudo recente do Instituto Gallup identificou que cerca de dois terços dos trabalhadores americanos experimentam algum nível de esgotamento no trabalho. Dessa forma, podemos imaginar que alguma dessas pessoas enfrentando o Burnout está bem mais próxima do que sequer imaginamos. Na verdade, pode ser eu, ou mesmo você.

O esgotamento profissional, a Síndrome de Burnout, é uma consequência severa da sujeição prolongada ao estresse que se desenvolve quando as demandas no trabalho e as capacidades pessoais são desequilibradas por muito tempo. Os mais significativos indícios de Burnout são exaustão emocional e pessimismo, desaparecimento do entusiasmo pelo trabalho, longas horas de trabalho, falta de horas de descanso, atraso frequente, incapacidade na gestão das demandas, não cumprimento de prazos, queda de desempenho, e relutância em cumprir novas atividades. Qualquer semelhança com os casos compartilhados acima não deve ser mera coincidência.

Se por um lado há um consenso de que o sofrimento psicológico, como a Síndrome de Burnout, é um sintoma cada vez mais presente no ambiente organizacional, pouco ainda se discute sobre o tema com a abertura, transparência e nível de responsabilização necessários para evitá-lo. Uma abordagem efetiva deve incluir vários níveis que se influenciam mutuamente, como o nível organizacional, lideranças, equipes e indivíduos. 

Principalmente no contexto da pandemia, vimos um aumento significativo de práticas organizacionais como iniciativas de bem estar focadas em saúde mental, resiliência e controle de estresse. Essas atividades, ao alcançarem todos os níveis das organizações, também convidam cada indivíduo a refletir sobre sua própria situação, necessidades e oportunidades.

Porém, ainda existe uma oportunidade de reforçar de maneira mais intencional o impacto dos líderes diretos no esgotamento e adoecimento no trabalho. Como popularmente dizemos, esses líderes estão posicionados no “meio do sanduíche” entre a alta liderança e suas equipes. Eles lidam com o desafio de equilibrar as demandas individuais e a performance geral de suas equipes, ao mesmo tempo em que recebem diretamente a pressão por alcance dos resultados estratégicos.

Além disso, para os membros de suas equipes, o gestor personifica a cultura, valores e estilo de liderança da própria organização tendo um impacto fundamental na maneira como cada um percebe o seu ambiente de trabalho. De acordo com o Instituto Gallup, o comportamento da liderança direta impacta em 70% a percepção do trabalhador sobre a sua experiência de trabalho. Dessa forma, informar, conscientizar e acima de tudo apoiar os líderes a incorporarem o tema de saúde e bem estar em suas práticas de gestão é fundamental.

Os melhores gerentes demonstram que se importam, conhecem individualmente cada membro de sua equipe, entendem o que é mais relevante para cada um, comemoram conquistas profissionais e pessoais, conversam sobre desempenho, realizam avaliações formais e, acima de tudo, respeitam seus funcionários.

Mas como colocar tudo isso em prática? Para começar, o Gallup identificou cinco principais atitudes de liderança eficaz que comprovadamente ajudam a prevenir e reduzir o risco de Burnout. São elas:

1.    Ouvir ativamente buscando compreender os problemas relacionados ao trabalho.

2.    Incentivar que a equipe seja uma linha de suporte emocional aos que passam por dificuldades.

3.    Fazer a opinião de todos valer, convidando todos a compartilharem ideias e se responsabilizarem pelo próprio desempenho.

4.    Tornar o trabalho significativo, mostrando como as contribuições de cada um podem fazer a diferença.

5.    Fornecer feedback baseado em fortalezas para que equipe possa fazer o que fazem de melhor.

Além disso, por mais que cada pessoa reaja ao estresse de maneira individual, pesquisas identificaram padrões que podem levar a experiência de Burnout e que portanto merecem uma atenção especial para serem evitados:

1.    Quando o trabalhador desconfia de que não é tratado de forma justa ou da mesma forma que os demais

2.    Demanda de trabalho de excessiva, seja por restrição de tempo, complexidade ou incompatibilidade com os recursos disponíveis

3.    Falta de clareza sobre objetivos e expectativas, principalmente na comunicação com o gerente direto

4.    Falta de apoio e encorajamento diante de desafios, fazendo com que o trabalhador se sinta isolado e receoso

5.    Pressão por prazos inatingíveis, desalinhados com expectativas de desempenho e excelência

Por fim, se eu tivesse que resumir a maior contribuição de um líder para a saúde, bem estar, engajamento e desempenho de sua equipe eu diria: faça com que cada membro da sua equipe sinta como genuinamente se preocupa com ele como pessoa. E que assim não faltem conversas abertas, significativas e capazes de fortalecer conexões que realmente farão a diferença para a construção de um ambiente saudável e positivo. 

Por Clarissa Gazzaneo, Consultora e Fundadora da Casa do Ser.

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